FERROADAS E PICADELAS

DIZEM QUE A VINGANÇA É DOCE...,
À ABELHA, CUSTA-LHE A VIDA!
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"UMA BOA ABELHA, NÃO POUSA EM FLORES MURCHAS"
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"Os livros, são abelhas que levam o pólen de uma inteligência a outra."
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"TAL COMO AS ABELHAS, AS PALAVRAS TÊM MEL E FERRÃO"




quarta-feira, 16 de março de 2011

O BOM SABOR DOS VELHOS TEMPOS !

Estava eu, frente ao computador parado e pensativo, procurando nalguns dos blogs desta família apícola, alguma explicação mais profunda e certeira para aquilo que causou nalguns, percas significativas, no meu caso a perca total das minhas quinze colmeias, se não quando, a Tyla, a esposa e companheira dos bons e maus momentos, me desperta para o jantar, libertando-me dum sono quiçá suave, mas tão belo e retemperador, pelo sonho de criança que o envolvia:
"O Fernando, traquina e espertalhão, tinha nos seus nove anitos a alegria e irrequietude próprias para a idade. Sempre pronto a fazer um recado ou a dar uma ajuda, mas também com a certeza de que era sempre recompensado. Os cinco tostões ou um outro miminho, que amiudadas vezes recebia, não faltavam sempre que ele se dispunha, numa correria desenfreada, em ir á loja, ou ajudar em qualquer coisa.
E a sua disponibilidade e gosto de ajudar eram incondicionais para o Ti Firmino (gato). O Ti Firmino, carpinteiro e tanoeiro de profissão, era uma personagem austera mas lá no fundo um tipo porreiro, e o Fernando gostava d'ele.


É que este, tinha sempre um miminho, uma recompensa tão especial…

Nos seus nove anitos, não era a vontade de trabalhar ou fazer qualquer coisa que o impelia, mas a recompensa do Ti Firmino.

E desde as descamisadas, ás descaroladas ou ao aperto do engaço, lá estava o puto ás vezes a estorvar mais que a ajudar.

Certo dia, quase noite, lá vem o Ti Firmino com um cortiço às costas e grita:

-olha lá rapaz, pede lá á tua mãe, e vem comigo que agente não se demora.

E assim foi, perto do cemitério, num pinheiro "rabuseiro", havia algo bastante volumoso e negro que pendia de um ramo. Um enxame que fugira de um qualquer cortiço. Lá colocou estrategicamente o cortiço que previamente esfregara com rosmaninho e besuntara de mel, e pediu-me que na cadência que me ensinou, fosse batendo no mesmo, enquanto ele ia cantarolando:

-casa nova, abelha-mestra; casa nova, abelha-mestra; casa nova, abelha-mestra.

E foi assim que o enxame entrou na totalidade para o cortiço que depois carregou até casa onde o colocou no sítio que previamente preparara.

Lembro aqui os conhecimentos empíricos aplicados na tarefa porquanto não houve luvas, nem máscaras nem nada que nos pudesse proteger e diga-se em abono da verdade não houve uma picadela sequer.

Agora em casa, faltava o tal miminho p’ró puto reguila. Um pão saloio sobre a toalha rendada, e duma ida á adega lá vinha naquela taça de barro o petisco tão adorado.

Mel, para barrar sobre o pão de trigo, numa época em que imperava a broa (pão de milho).

Até lambia os beiços!...

E era comer até empanturrar que tão breve não apanhava outra oportunidade.

Ás vezes tentava. Até se oferecia para fazer qualquer coisa. Então?! Era tão bom pão com mel! O Ti Firmino já partiu, e agora é o Fernando que procura apanhar os enxames que fogem mas, hoje que já passou dos cinquenta, ainda mantém, e cada vez mais apurado, um gosto que felizmente vai degustando com alguma regularidade:


comer pão com mel. "

Lá fui jantar, mas fiquei com pena. Com pena de ter acordado. Aquele sonho, que me levou aos tempos de criança e á vivência com as pessoas de que gostava, foi no entanto o bálsamo que, cada vez com mais força, me impele a recomeçar do zero esperando que, também daqui a algumas dezenas de anos, alguém se possa recordar com prazer, das abelhas e do mel do Fernando.

2 comentários:

Unknown disse...

Meu caro!
Estas fases da vida quase todos as passamos, o gosto pelas abelhas fica ou não, depende muito da dor que cada um senteu nas picadelas que levou, depende se andou ou não de olhos inchados.
foi esse gostinho especial que me levou a apreender um pouco sobre estes mesteriosos insetos, nunca vou passar de um simples apreendiz de feiticeiro mas não desisto.

Anónimo disse...

Há quem diga que o sonho alimenta a vida, mas por mim prefiro dizer como Cervantes - "Felizes dos que podem sonhar acordados!"
Está na hora sonhar e de começar a povoar essas colmeias.
Um abraço.
Abelhasah.


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